Tróia


Tanto potencial, tantas esperanças, tantas possibilidades...
Tantos erros, tanto desperdício, tanta incompetência...
Tanto dinheiro...

Que pena. Que lamento tão grande. Aquele que poderia ter sido um épico inesquecível, falha redondamente na realização e no argumento. Falha no seu núcleo, falha na sua génese. E esta falha contamina todo o filme, como se de um vírus se tratasse, arruinando-o por completo.

Se há coisa que Wolfgang Petersen provou com "Tróia", foi que a sua falta de talento, falta de visão e óbvia incompetência não abrangem apenas a área atrás das câmaras.
É certo, mais do que certo, que a mostra sem pudor atrás das câmaras. Uso abusivo e descabido de zoom-in e slow-motion, planos absolutamente banais e incapacidade de aproveitar a belíssima fotografia de Roger Prat, total falta de orientação nas batalhas, perda de noção das distâncias (Aquiles dá palpites sobre uma batalha que observa a 10 km de distância; Helen e Páris trocam sorrisos a 1 km de distância; Aquiles aponta uma espada a Hector a 5 metros de distância, etc...).
Enfim, um trabalho digno de um tarefeiro medíocre que não esteve à altura do desafio.

De seguida, temos o argumento de um inexperiente e quase desconhecido David Benioff, cujo trabalho iguala o nível de miserabilidade de Petersen.
Benioff começa por deturpar e manipular a história original, adaptando-a a um formato mais gratuito, fácil e pseudo-dramático. Entre os exemplos, note-se a total eliminação dos Deuses, restando apenas uma leve sugestão de que Aquiles seria um semi-Deus (algo que, nunca confirmado, é motivo das mais variadas incoerências ao longo do filme).
Elabora também uma série de diálogos totalmente banais, pouco fluídos e desenquadrados para o género em que "Tróia" está inserido. E, para o encerrar em beleza, Benioff obteve ainda uma concepção, no que toca às personagens, no mínimo... duvidosa.

E neste aspecto, tenho de me expressar da forma mais clara possível sobre o ridículo visual de Aquiles. O herói (ou o anti-herói) de o que poderia ter sido um grande épico, interpretado por um grande actor como Brad Pitt (na altura, com 40 anos)... transformado num ídolo das adolescentes. Cabelos oleosos e puxados para trás, pele bronzeada, músculos definidos, peito sem pêlos...
E com isto, "Tróia" perde definitivamente toda a sua credibilidade.

Tal como Brad Pitt que, preso a um estigma lamentável e inaceitável para um actor na sua posição, com a sua idade, e no género em que era, cai no ridículo e nos traz uma das piores interpretações da sua carreira.
Quanto ao restante elenco, é, quase todo, igualmente aniquilado pela dupla Petersen-Benioff.

Salvam-se Eric Bana, Brian Cox e Sean Bean. Os três muito bem.
Orlando Bloom é o típico tijolo amorfo a que estamos habituados e Brendan Gleeson está confinado a um personagem muito mal trabalhado.
Diane Kruger apenas tem de exibir a sua beleza (e outras coisas, tratando-se da Versão de Realizador...), Peter O' Toole passa o filme a falar em slow-motion e Rose Byrne a guinchar (pelos mais diversos motivos...).

O compositor escolhido, à pressão, foi James Horner que, com o mero mês que teve, compôs uma partitura bastante razoável, na qual se incluem temas sonantes, nomeadamente a música "Remember Me", de Josh Groban, mas também um ou outro menos conseguido.

Os restantes valores de produção são, como seria de esperar para o orçamento em questão, de luxo. A já referida fotografia, o guarda-roupa nomeado pela Academia, as magníficas coreografias dos duelos ou os irrepreensíveis efeitos especiais constituem o "embrulho" muito apelativo de "Tróia".

E, como é óbvio e apesar de tudo, fazem deste um filme irresistível para quem procura apenas o entretenimento. Neste aspecto e com as possibilidades que tinha, era quase impossível que "Tróia" não proporcionasse massivas doses de entretenimento.

Petersen pode ser um mau realizador, mas efectivamente não é mau ao ponto de arruinar o factor entertainer de "Tróia". Aliás, foi este o único objectivo real e totalmente bem-sucedido do filme.

Ainda assim, um tratado de desperdícios assinado sem glória nenhuma pelo alemão Wolfgang Petersen...


"I've fought many wars in my time. Some I've fought for land, some for power, some for glory. I suppose fighting for love makes more sense than all the rest."

"Myrmidons! My brothers of the sword! I would rather fight beside you than any army of thousands! Let no man forget how menacing we are, we are lions! Do you know what's waiting beyond that beach? Immortality! Take it! It's yours! "


13 Eloquentes Intervenções Escritas:

V2 disse...

Exageres um bocado quando dizes que eram maricas. Era os penteados da altura!
De resto achei um bom filme que manteve o interesse ate ao fim graças a uma boa recriação histórica e dos grandes actores que desempenharam os seus papeis.
Merece mais do que um 2.5!

Rui Francisco Pereira disse...

vais ao gladiador não ves o russel crowe com um cabelo até às costas;
também não acho que mantenha muito o interesse,sobretudo pela loga duração do filme
quanto aos actores,só poucos se destacam pela positiva
só consegue entreter devido ao facto de ser uma grande produção
2.5

Luís disse...

Ó estrôncio, o russel crowe andava na tropa, nas legiões romanas. O filme passou-se antes e era com os gregos, muito mais porcos e badalhocos (não tinham banhos). Se reparares todas as estátuas romanas tinham cabelo curto, enquanto q os gregos não. Portanto, a história esmaga a tua teoria Rui.

E dizes que sou estúpido por me aborrecer com o Blade Runner, e aborreces-te com o Tróia.

No comprendo.

Rui Francisco Pereira disse...

é possível,mas mesmo assim troia é um filme nojento em diversos aspectos
e mais uma vez,ao estares a compara-lo com o blade runner,estás a insultar o blade runner e revelas ignorancia cinematografica...estroncio

Unknown disse...

Meu amigo, 2,5? que crítica horrivel cara, TROIA merece muito mais que isso, e que coisa é essa? visual desanimado? cara que coisa de otário! o Brad Pitt (Aquiles) atuou muito bem em seu papel, até melhor que o necessário! sem querer q me chamem de Gay mas o cara é um bom ator, e o filme pra mim deu 9.5 porque para mim oque importa é que o filme tem uma boa história, atores muito bons, muita bilheteria, e esse filme ja foi assistido 705 bilhões de vezes nos cinemas, que tiveram que reservar 3 salas para o filme e um horario seguido do outro! e em DVD foi vendido mais de 50 bilhões de cópias, (no mundo claro até hoje) quase alcansou o filme Titanic, que crítica idiota essa que o cara fez, se ve um filme de 10 (o melhor) a 0 (o pior) ou seja Troia foi o pior filme q vc ja assistiu então!

Rui Francisco Pereira disse...

"Cara":

-Não existe na análise nada vagamente semelhante a "visual desanimado". Aliás, o visual é até "animado" de mais;

-A apreciação da performance de Brad Pitt é subjectiva: gostaste, eu não.
E não estou bem a ver essa do "melhor do que necessario". Achas que se ele tivesse (que não tem) uma boa interpretação, esta era desncessária?!

-Como é óbvio, não te vou chamar gay por gostares do trabalho de Brad Pitt...
Pitt é um óptimo actor, mas falhou aqui...

-Deixa lá ver se eu percebi: então se um filme tiver grandes actores, muita gente a vê-lo e três salas reservadas, é bom? Belos critérios...

-Se tivesses um pingo de perspicácia (quer dizer "capacidade de perceber o que está a acontecer à nossa volta", "abrir os olhinhos"), tinhas percebido que aqui no blog classifico os filmes de 1 a 5, e não de 1 a 10.
Mas, se classificasse os filmes de 1 a 10, achavas que 2.5 era o pior?
Então e o 2, 1.5, 1?...

Haja paciência...

Roberto Simões disse...

Gostei da crítica. Bem escrita, muito bem humorada, corrosiva por vezes. No geral, estou de acordo contigo. Também comentarei este filme, em breve, a propósito d'A MARATONA DOS ÉPICOS.

Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «

Roberto Simões disse...

Ah, o David Benioff não é propriamente um desconhecido. Já fez coisas muito boas. Aqui falha redondamente. A começar na adaptação. O pior do filme é mesmo a adaptação da Ilíada. Basta ler uma ou duas estrofes do poema para amar aquela história, verdadeiramente. TRÓIA deixa tanto a desejar...

Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «

Rui Francisco Pereira disse...

Roberto,

Muito obrigado, mesmo ;)

Ao contrário de ti, conto pelos dedos das mãos os comentários que me elogiam as críticas, pelo que estou grato.

Modéstia à parte, saiu-me bem :D

Estou só a escrever a crítica à DC, e depois logo te envio.

O Benioff tinha escrito o 25th Hour, algo que sei que gostas.
Mas não se pode dizer que seja assim muito conhecido, ou talentoso...

Abraço ;)

ArmPauloFerreira disse...

Eu gostei deste filme e não vi nada de errado no visual do Hercules de Brad Pitt (é um semi-deus mesmo assim).
Tentaram dar uma abordagem irradicando a componente dos deuses e toda a fantasia inerente, ficando mesmo assim com o semi-deus.
É questionável é certo mas mesmo assim o filme satisfez-me (até o tenho em DVD - que pena não ter sido a versão DC).

Rui Francisco Pereira disse...

Arm,

Não viste nada de errado no visual?
A sério? xD

O facto de Aquiles ser um semi-Deus só é para ti um dado adquirido porque, presumo, conhecerás a Ilíada. Do filme é que não tiraste essa informaçao de certeza, já que o Petersen elimina toda essa componente.

A DC está um pouco acima. Deixa lá o teu comentário ;)

Jorge Teixeira disse...

Vim comentar aqui porque não vi a Versão do Realizador.

Vamos lá ver, eu gosto muito deste Tróia, assume-se mesmo como um dos meus filmes preferidos no registo épico, do que me lembro. A questão prende-se no sentido em que a última visualização que fiz do filme já ter sido há bastante tempo. No total devo-o ter visto umas três vezes, e foram todas (naquela euforia ainda ingénua) muito seguidas e há pelo menos 5 anos.

Tudo isso faz com que não consiga, em plena consciência, argumentar e discuti-lo. Recordo-me, como não podia deixar de ser, das partes mais emocionantes, aquelas que revi muitas vezes. Essa do Hector com o Aquiles foi uma delas, e vendo-a actualmente (coisa que fiz) não me cativa tanto como outrora.

Mais uma razão, e à luz de ter evoluído e ganho tanta, mas tanta mais bagagem cinematográfica desde então, é-me bastante difícil opinar sobre.
Digamos que, sobretudo nestes filmes que tanto gostei, preciso de rever (ainda que me lembre bem da história) para avaliar/apreciar convenientemente segundo gostos actuais, mais ricos culturalmente.

Do que me lembro e do que consigo depreender assim de cabeça, me parece que Eric Bana se sobressai (ainda que hajam outros, mas não tanto como ele) assim como alguns aspectos técnicos.
Do resto é capaz de existir falhas no argumento e na realização, bem capaz, mas lá está, não consigo ter certezas...

Posto isto, preciso mesmo de revê-lo na sua totalidade. O meu salto de há cinco anos para cá foi gigantesco ao nível cinematográfico. Muito mas muito grande. É que passei de um mero espectador de filmes de fim de semana à tarde, para um que lê sobre o assunto e se interessa por tudo dentro da área, desde blockbusters até alguns mais intelectuais, ou desde recentes a clássicos. Sigo por interesse e gosto, e que belas surpresas tenho tido, mal eu sabia o que estava a perder, ou perdi grande parte da minha adolescência. Enfim, mais vale tarde do que nunca, sempre aprendendo.

Fica só um desabafo e um testemunho. Espero ter-te esclarecido o mais possível.

abraço

Rui Francisco Pereira disse...

Jorge,

Não tenho muito a dizer. Obrigado pelo excelente testumunho, já ambos expressamos os nossos pontos de vista, e muito bem parece-me ;)

Abraço

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