A Outra Face


Não gostei tanto de "A Outra Face" como pensei que ia gostar. Estava à espera de uma grande fita de acção, mas com substância. Afinal de contas, este é tido como um dos melhores filmes de acção dos anos 90 mas, para os sortudos que já viram "Heat- Cidade sob Pressão" (crítica aqui), todo o filme de acção tem de... bem, tem de ser algo mais do que apenas um filme de acção. Ou isso ou entreter excessivamente bem, o que já implica outros factores como um nível de coolness e testosterona acima dos limites do razoável. Mas isso é outra conversa.

Este "A Outra Face" promete mais do que realmente oferece. É farto em cenas de acção, mas a sua longa duração (2:30 h) exigia uma substância que John Woo não lhe consegue atribuir. Fica-se pelas portentosas cenas de acção (que, a longo prazo, se tornam cansativas) e pelas suas marcas já habituais (as pombas, aquelas malditas!).

Woo peca também por não dar ao seu fantástico duo de protagonistas o tempo de antena que merecia, e aqui refiro-me a diálogos e capacidade interpretativa, já que vemos constantemente os protagonistas... a saltarem e a dispararem de um lado para o outro.
No caso de Nicolas Cage é apenas incomodativo, já que o actor nunca atinge um registo tão marcante quanto o seu ridículo corte de cabelo, embora obtenha uma interpretação capaz.
É com John Travolta que esta falta de protagonismo, sobretudo enquanto vilão, é verdadeiramente criminosa. Quando tem a oportunidade (recorde-se o primeiro encontro de ambos, já de caras invertidas, na prisão) John Travolta é absolutamente memorável, enquanto cria um dos melhores vilões do Cinema. Infelizmente, e como já referi, é uma criação tão (forçosamente) breve que acaba por não se impor como o actor merecia. O que é uma pena, mas o que nos vale a nós, fãs de Travolta, é que ao actor lhe bastam alguns momentos para marcar todo um filme.

No final, a sensação que fica é não tanto a de desilusão, mas sobretudo a de insuficiência. "A Outra Face" carece em substância e em capacidade de entretenimento. O que não invalida que não o faça, apenas não tão bem quanto poderia/deveria.


"You'll be seeing a lot of changes around here. Papa's got a brand new bag."

7 Eloquentes Intervenções Escritas:

Bruno Cunha disse...

Eu lembro-me de ver este filme quando era pequenino e só me lembro da cena final na ventoinha!

Abraço
Cinema as my World

AlexSupertramp disse...

Também me lembro deste filme e é dos filmes mais estúpidos que já vi. Portanto o Travolta troca a cara e mete a do Cage e vice-versa?
Realmente não sei onde estavam com a ideia para fazer isto.

Mas gostei da crítica, tocas-te nos pontos essenciais ao afirmares que não foi dado muito tempo para Travolta brilhar como ele, sem dúvida podia.

Abraço

JB disse...

Quem visita O Revola da Pipoca sabe que Travolta é o meu actor favorito. E aqui não concordo na totalidade contigo. O filme para mim é mesmo dos melhores filmes de acção dos anos 90. Claro que existe essa obra-prima que é Heat, mas este é pura acção, como John Woo sabe fazer (aqui é melhor esquecer M:I 2). Travolta na pele de vilão é para ficar para a história e Castor Troy é para mim um dos melhores vilões de sempre. O encontro na prisão entre Travolta e Cage é digna de ficar como uma das grandes cenas do cinema moderno. Sim, o filme tem um argumento que pode soar a ridículo, mas nas mão de uma equipa que sabe o que faz, até isso é credível. Por tudo isso e muito mais este é um dos meus filmes favoritos.

Anónimo disse...

Aqui tenho que concordar com o João. Face Off, apesar da premissa estúpida é um dos melhores filmes de acção dos anos 90. Pure Awesomeness!

Ricardo Vieira

Rui Francisco Pereira disse...

Nekas,

Não me lembro de uma cena final com uma ventoinha, mas acho que a cena inicial tem uma ventoinha.


Alex,

Por acaso o teu comentário relembrou-me a ridícula premissa, que esqueci de referir na crítica.

Obrigado pelas tuas palavras, Travolta devia ter tido muito mais real protagonismo. O seu Caster Troy é marcante mas breve e algo oco.


João,

Sei perfeitamente, também é um dos meus actores preferidos.
No entanto, e se me permites, tens de ver até que ponto essa adoração pode estar a toldar a tua visão.
Acho que Travolta, quando lhe é dada a oportunidade, é magnifíco em A outra Face. O problema é que só o vemos a disparar e isso a mim, não só como cinéfilo mas sobretudo como fã do actor, não me satisfaz.

E acho que A Outra Face é tudo menos credível ;)
E também não acho o Heat, de todo, uma obra-prima.


Ricardo,

Eu percebo perfeitamente, mas não me convenceu o filme. Assim de repente, deixei-me levar muito mais pelo Operação Swordfish.


Abraços e obrigado pelos comentários!

JB disse...

Nao tolda a minha visão. Nao sei se será so tiros. Lembro-me da cena com a filha em que troca o nome dela de Jamie por Janie. No departamento do FBI quando mata o director. e mais umas quantas.... em Swordfish, como referes, claro que ele tem espaço para brilhar, e aquela cena inicial é brilhante!

Rui Francisco Pereira disse...

João,

Eu quando disse só tiros, estava a referir-me não só a cenas de tiros, mas também às cenas de luta, explosões, enfim tudo o que não inclua diálogo e narrativa.
Em A Outra Face, tirando a cena da prisão que é a principal, são pouquíssimas as oportunidades que temos para apreciar não só o talento de Travolta, mas também a própria génese de Castor Troy.

Por isso, é que, a meuv er, Troy nunca será um grande vilão. Ou se o é, é a (muito) curto prazo...

Quanto ao Swordfish, totalmente de acordo, como sabes!

Obrigado pela resposta!

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