Sacanas Sem Lei (Parte II)


Mas Quentin Tarantino fá-lo com certeza. E fá-lo apresentando ao espectador todas as técnicas a que já estamos habituados, mas arriscando ainda mais do que em qualquer outro filme seu, revelando a já mais do que evidente mestria mas também um enorme cuidado e preocupação com certos aspectos culturais, fundamentais para o fim condutor.

A realização é, por e simplesmente, imune. Imune à falha e ao defeito, a realização é sobretudo imune a qualquer crítica que não contenha a palavra perfeição, algo que a define na... perfeição.
Dos belíssimos planos mais artísticos (suportados por uma cinematografia de peso), onde Tarantino mostra toda a sua sensibilidade, aos planos mais simples e já característicos do realizador como o conhecido fetiche por pés (que, curiosamente ou não, acaba por ser um aspecto de relativa importância na recta final do filme), a realização de Quentin Tarantino atinge um novo patamar de excelência e consegue um feito que nenhum outro filme do realizador conseguiu: mostrar simultâneamente a irreverência característica de um jovem Quentin Tarantino, mas também a maturidade do experiente Quentin Tarantino.

O argumento, esse, é possivelmente o trabalho de uma vida.
Se é certo que o de "Pulp Fiction" (as comparações são inevitáveis, principalmente para mim) é genial em todos os aspectos, o argumento de "Sacanas Sem Lei" prima pela coragem necessária para satirizar um dos piores períodos da história e pela sensibilidade para dramatizar (ainda mais e sem se tornar frouxo) este mesmo acontecimento.Quentin Tarantino idealiza mais uma vez uma série de histórias cruzadas, mas que chocam violentamente. E isto tudo sem descurar factores e sentimentos essenciais para qualquer filme, sendo que "Sacanas Sem Lei" nos consegue fazer reflectir seriamente mas também entreter profundamente.
O drama, a comédia, a acção. Todos estão presentes mas nenhum é dominante. Quentin Tarantino joga com as nossas emoções de uma forma sobre-humana, e sem sequer darmos conta. E isso, diga-se, é absolutamente brilhante.
Obviamente que não posso terminar esta parte sem referir dois aspectos fulcrais para o triunfo a todos os níveis de um dos melhores argumentos de sempre, e que são os diálogos e a variedade linguística.
Os diálogos estão lá. Não mais a dizer. "Os diálogos estão lá" é tudo o que qualquer alma que aprecie minimamente Cinema precisa de saber para ter a certeza de que "Sacanas Sem Lei" é de visualização obrigatória. E aqui é que se vê que a verdadeira Fábrica dos Sonhos está na mente de um homem: Quentin Tarantino.
E, claro, a riqueza linguística de "Sacanas Sem Lei" que é símbolo da já referida maturidade ou coragem, mas também símbolo de uma determinação tão forte que apenas estabelecerá um limite para Quentin Tarantino: o Céu.

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