A juntar-se ao agradecimento óbvio por ter aceite o meu convite, manifesto também a minha gratidão ao Samuel Andrade, autor do Keyse Soze's Place, por me ter facilitado a vida na elaboração deste post.
Assim é que é, Samuel!
Assim é que é, Samuel!
1. O ÚLTIMO GRANDE HERÓI (1993), de John McTierman
Ridicularizado, menosprezado e esquecido até à medula: foi este o saldo de O ÚLTIMO GRANDE HERÓI aquando da sua estreia e estes sinónimos tornaram-se num rótulo do qual o filme nunca se descolou. Contudo, foi conquistando, ao longo dos anos, um considerável número de fãs (incluindo eu) que se rendeu às suas cenas memoráveis e desenfreado sentido de auto-ironia. Arnold Schwarzenegger troçando da sua própria imagem? O Cinema de grande orçamento made in Hollywood a fazer pouco de si mesmo? A propositada abundância de clichés narrativos e erros de continuidade de uma ponta à outra do filme? Não serão motivos suficientes para se encarar O ÚLTIMO GRANDE HERÓI como algo de único e especial?
Tendo em conta a quantidade de produções menores que, actualmente, obtêm sucesso imediato sem reservas, continua a espantar-me o falhanço crítico e comercial deste filme. Com John McTierman, um dos melhores realizadores de acção (CAÇA AO OUTUBRO VERMELHO, 1990), ao leme das operações, uma irrepreensível interpretação de Charles Dance e Ian McKellen a surgir num divertido cameo como a personagem da Morte de O SÉTIMO SELO (1957, Ingmar Bergman) que emerge literalmente do ecrã de uma sala de cinema, poderia ocupar todo este espaço com as razões para admirar O ÚLTIMO GRANDE HERÓI.
2. OPERAÇÃO SWORDFISH (2001), de Dominic Sena
Dos filmes cujos percursos ficaram imediatamente afectados pelo 11 de Setembro de 2001, OPERAÇÃO SWORDFISH foi o que mais "danos colaterais" registou. A seu favor, tinha produção de Joel Silver, "mago" das super-produções de Hollywood, um elenco de alto calibre (John Travolta, Hugh Jackman, Don Cheadle e, sobretudo, Halle Berry a ocupar a vaga de femme fatale com pouca ou nenhuma roupa), diálogos que podiam muito bem ter sido dactilografados por Quentin Tarantino e sequências de acção quase "orgiásticas" nos seus índices de devastação urbana. Com todos estes ingredientes, o que poderia falhar?
Obviamente, o contexto temporal da sua estreia não foi o mais favorável à sugestão de planos ultra-secretos para derrubar estados que acolhem terroristas como refugiados políticos ou visões de prédios a explodir com contornos demasiado semelhantes aos observados nas Torres Gémeas em 2001 — como resultado, OPERAÇÃO SWORDFISH "desapareceu" rapidamente de circulação. Deste modo, privou-se uma franja considerável de espectadores de um dos actioners que mais empreendeu na difícil tarefa de aliar um argumento coerente com a pura adrenalina ilógica das suas sequências de acção.
3. G.I. JANE — ATÉ AO LIMITE (1997), de Ridley Scott
Antes de qualquer consideração, atentemos ao estado da carreira de Demi Moore na época em que G.I. JANE — ATÉ AO LIMITE estreou. Era a actriz mais bem paga e rainha da controvérsia de Hollywood. "Fresca" do sucesso e (sobretudo) polémica que STRIPTEASE gerara, Moore embarcou neste drama militar, sobre as hipóteses do factor girl power no seio do universo machista dos Fuzileiros norte-americanos, disposta a tudo: rapou o cabelo (acto que lhe "engordou" o salário), aumentou a sua musculatura e vociferou algumas das linhas de diálogo mais improváveis para uma actriz do seu estatuto — sendo "Master Chief... suck my dick!" a mais infame de todas.
Mas G.I. JANE — ATÉ AO LIMITE não é um 'guilty pleasure' apenas pela presença de Demi Moore. Ridley Scott aposta sempre muito no visual dos seus filmes, tornando-os atraentes até para os tecnicamente mais leigos, e o filme demonstrou a emergência do talento de um actor escandinavo-americano chamado Viggo Mortensen, que viria a afirmar-se na trilogia de Peter Jackson O SENHOR DOS ANÉIS (2001, 2002 e 2003).
4. DELÍRIO EM LAS VEGAS (1998), de Terry Gilliam
Antes de Terry Gilliam conceber a sua adaptação ao grande ecrã, já eu conhecia e prezava o livro de Hunter S. Thompson, considerando-o como uma daquelas obras totalmente "infilmáveis". Pois bem, o ex-Monty Python provou o contrário ao escolher Johnny Depp (Raoul Duke, um caricatural sósia do romancista) e Benicio Del Toro (no papel de Dr. Gonzo, o inflado advogado do protagonista) para conceber uma das películas mais curiosas e representativas sobre acid trips e excessos característicos de Las Vegas.
DELÍRIO EM LAS VEGAS é inteiramente filmado através de constantes e surpreendentes representações de alucinações e os esquizofrénicos close-ups, registados com lentes angulares, transformam as personagens em desenhos animados, transmitindo-nos a sensação de que a película decorre num País das Maravilhas adequado para "Alices" sem pavor de caírem na toca do coelho. Para além disso, o filme é povoado pelo mais interessante elenco de cameos de que há memória, com fugazes aparições de Tobey Maguire, Gary Busey, Ellen Barkin, Christina Ricci, Cameron Diaz, Harry Dean Stanton e o próprio Hunter S. Thompson. No final, tanto o livro como o filme parecem ser uvas da mesma casta...
5. O ÚLTIMO A CAIR (1996), de Walter Hill
O ÚLTIMO A CAIR é vagamente baseado no clássico YOJIMBO, O INVENCÍVEL de Akira Kurosawa (que já havia sido reinterpretado por Sergio Leone em POR UM PUNHADO DE DÓLARES). Enquanto que a história original abordava temáticas como a honra e a paz, Walter Hill apostou num 'western do puro e do duro', ofegantemente dominado pela poeira tórrida do deserto norte-americano e a apatia expressiva de Bruce Willis no papel de um solitário que decide, pelo mero prazer de sentir a combustão da pólvora em revólveres, terminar com a luta entre os grupos rivais que avassala a cidade texana de Jericho.
A acção é súbita, explosiva, violenta e quase caricata — uma visão típica dos westerns produzidos nos anos 90 e são exemplos disso RÁPIDA E MORTAL (1995, Sam Raimi) ou HOMEM MORTO (1995, Jim Jarmusch) — e a sequência que destaco de O ÚLTIMO A CAIR demonstra essas características. Se somarmos que o vilão principal é interpretado por Christopher Walken (nenhum actor consegue entrar tão facilmente em "modo automático" de antagonismo como ele), estão reunidas todas as condições para um dos 'guilty pleasures' que revejo com mais frequência e admito, muitas vezes, encará-lo como uma referência para o renascimento contemporâneo do género «Oeste Selvagem».
Ridicularizado, menosprezado e esquecido até à medula: foi este o saldo de O ÚLTIMO GRANDE HERÓI aquando da sua estreia e estes sinónimos tornaram-se num rótulo do qual o filme nunca se descolou. Contudo, foi conquistando, ao longo dos anos, um considerável número de fãs (incluindo eu) que se rendeu às suas cenas memoráveis e desenfreado sentido de auto-ironia. Arnold Schwarzenegger troçando da sua própria imagem? O Cinema de grande orçamento made in Hollywood a fazer pouco de si mesmo? A propositada abundância de clichés narrativos e erros de continuidade de uma ponta à outra do filme? Não serão motivos suficientes para se encarar O ÚLTIMO GRANDE HERÓI como algo de único e especial?
Tendo em conta a quantidade de produções menores que, actualmente, obtêm sucesso imediato sem reservas, continua a espantar-me o falhanço crítico e comercial deste filme. Com John McTierman, um dos melhores realizadores de acção (CAÇA AO OUTUBRO VERMELHO, 1990), ao leme das operações, uma irrepreensível interpretação de Charles Dance e Ian McKellen a surgir num divertido cameo como a personagem da Morte de O SÉTIMO SELO (1957, Ingmar Bergman) que emerge literalmente do ecrã de uma sala de cinema, poderia ocupar todo este espaço com as razões para admirar O ÚLTIMO GRANDE HERÓI.
2. OPERAÇÃO SWORDFISH (2001), de Dominic Sena
Dos filmes cujos percursos ficaram imediatamente afectados pelo 11 de Setembro de 2001, OPERAÇÃO SWORDFISH foi o que mais "danos colaterais" registou. A seu favor, tinha produção de Joel Silver, "mago" das super-produções de Hollywood, um elenco de alto calibre (John Travolta, Hugh Jackman, Don Cheadle e, sobretudo, Halle Berry a ocupar a vaga de femme fatale com pouca ou nenhuma roupa), diálogos que podiam muito bem ter sido dactilografados por Quentin Tarantino e sequências de acção quase "orgiásticas" nos seus índices de devastação urbana. Com todos estes ingredientes, o que poderia falhar?
Obviamente, o contexto temporal da sua estreia não foi o mais favorável à sugestão de planos ultra-secretos para derrubar estados que acolhem terroristas como refugiados políticos ou visões de prédios a explodir com contornos demasiado semelhantes aos observados nas Torres Gémeas em 2001 — como resultado, OPERAÇÃO SWORDFISH "desapareceu" rapidamente de circulação. Deste modo, privou-se uma franja considerável de espectadores de um dos actioners que mais empreendeu na difícil tarefa de aliar um argumento coerente com a pura adrenalina ilógica das suas sequências de acção.
3. G.I. JANE — ATÉ AO LIMITE (1997), de Ridley Scott
Antes de qualquer consideração, atentemos ao estado da carreira de Demi Moore na época em que G.I. JANE — ATÉ AO LIMITE estreou. Era a actriz mais bem paga e rainha da controvérsia de Hollywood. "Fresca" do sucesso e (sobretudo) polémica que STRIPTEASE gerara, Moore embarcou neste drama militar, sobre as hipóteses do factor girl power no seio do universo machista dos Fuzileiros norte-americanos, disposta a tudo: rapou o cabelo (acto que lhe "engordou" o salário), aumentou a sua musculatura e vociferou algumas das linhas de diálogo mais improváveis para uma actriz do seu estatuto — sendo "Master Chief... suck my dick!" a mais infame de todas.
Mas G.I. JANE — ATÉ AO LIMITE não é um 'guilty pleasure' apenas pela presença de Demi Moore. Ridley Scott aposta sempre muito no visual dos seus filmes, tornando-os atraentes até para os tecnicamente mais leigos, e o filme demonstrou a emergência do talento de um actor escandinavo-americano chamado Viggo Mortensen, que viria a afirmar-se na trilogia de Peter Jackson O SENHOR DOS ANÉIS (2001, 2002 e 2003).
4. DELÍRIO EM LAS VEGAS (1998), de Terry Gilliam
Antes de Terry Gilliam conceber a sua adaptação ao grande ecrã, já eu conhecia e prezava o livro de Hunter S. Thompson, considerando-o como uma daquelas obras totalmente "infilmáveis". Pois bem, o ex-Monty Python provou o contrário ao escolher Johnny Depp (Raoul Duke, um caricatural sósia do romancista) e Benicio Del Toro (no papel de Dr. Gonzo, o inflado advogado do protagonista) para conceber uma das películas mais curiosas e representativas sobre acid trips e excessos característicos de Las Vegas.
DELÍRIO EM LAS VEGAS é inteiramente filmado através de constantes e surpreendentes representações de alucinações e os esquizofrénicos close-ups, registados com lentes angulares, transformam as personagens em desenhos animados, transmitindo-nos a sensação de que a película decorre num País das Maravilhas adequado para "Alices" sem pavor de caírem na toca do coelho. Para além disso, o filme é povoado pelo mais interessante elenco de cameos de que há memória, com fugazes aparições de Tobey Maguire, Gary Busey, Ellen Barkin, Christina Ricci, Cameron Diaz, Harry Dean Stanton e o próprio Hunter S. Thompson. No final, tanto o livro como o filme parecem ser uvas da mesma casta...
5. O ÚLTIMO A CAIR (1996), de Walter Hill
O ÚLTIMO A CAIR é vagamente baseado no clássico YOJIMBO, O INVENCÍVEL de Akira Kurosawa (que já havia sido reinterpretado por Sergio Leone em POR UM PUNHADO DE DÓLARES). Enquanto que a história original abordava temáticas como a honra e a paz, Walter Hill apostou num 'western do puro e do duro', ofegantemente dominado pela poeira tórrida do deserto norte-americano e a apatia expressiva de Bruce Willis no papel de um solitário que decide, pelo mero prazer de sentir a combustão da pólvora em revólveres, terminar com a luta entre os grupos rivais que avassala a cidade texana de Jericho.
A acção é súbita, explosiva, violenta e quase caricata — uma visão típica dos westerns produzidos nos anos 90 e são exemplos disso RÁPIDA E MORTAL (1995, Sam Raimi) ou HOMEM MORTO (1995, Jim Jarmusch) — e a sequência que destaco de O ÚLTIMO A CAIR demonstra essas características. Se somarmos que o vilão principal é interpretado por Christopher Walken (nenhum actor consegue entrar tão facilmente em "modo automático" de antagonismo como ele), estão reunidas todas as condições para um dos 'guilty pleasures' que revejo com mais frequência e admito, muitas vezes, encará-lo como uma referência para o renascimento contemporâneo do género «Oeste Selvagem».
5 Eloquentes Intervenções Escritas:
Não tens que agradecer, eu é que estou grato!
Abraço!
Dos 5 que referes, o meu favorito é sem dúvida Swordfish... Se Tarantino fizesse um filme de acção pura, creio que seria assim... A 1ª cena é Tarantino puro!
Travolta deveria ser obrigado a fazer de vilão. Está excelente!
Sam,
Desculpa lá, mas eu é que agradeço! E a dobrar! :P
João,
Atribui nota mais alta ao Último Grande Herói, mas identifico-me mais com o Swordfish, confesso.
Deve ser por causa do Travolta (soube que és um grande admirador, também).
Quanto à comparação a Tarantino, concordo com a segunda parte: a introdução é ouro puro!
O resto do filme é assim ai e tal :P
Três vivas pro Travolta!
Abraços!
O delírio em las vegas é tudo menos um guilty pleasure. Porque haveria de ser guilty? O filme é mta bom.
Loot,
Não me posso pronunciar, não vi o filme...
Obrigado pelo comentário ;)
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