Match Point(Crítico Convidado-Miguel Reis)



“Match Point” de Woody Allen não tem Woody Allen como protagonista,
não tem Nova Iorque como cenário e nem sequer conta no seu enredo com
o maior dom do seu autor, que o catapultou para a eternidade: o
inconfundível e abstracto sentido de humor. É sim um melodrama
surpreendente sobre o destino e a sorte, com traços negros de
suspanse, traição e morte. Chris é um jovem professor de ténis que
sonha pertencer à alta sociedade britânica. Sonho esse que começa a
tomar forma quando um dos seus alunos, Tom, o apresenta à família, aos
pais e à irmã, que ficam fascinados com o seu gosto pela ópera e pelas
artes. Mas Chris, que rapidamente começa um romance com a irmã de Tom,
cai também ele rapidamente em tentação com a namorada de Tom
(Scarlett), uma americana aspirante a actriz que transpira
sensualidade por todos os poros. Entre as duas mulheres, Chris terá de
recorrer a medidas extremas para não perder tudo o que
instantâneamente ganhou.

Com uma considerável carga dramática e sempre em crescendo emocional,
“Match Point” foi o regresso ao minimalismo mais primitivo e
fulgurante de Allen, sem a necessidade deste de recorrer às suas
marcas mais autorais. Bem filmado, com Londres como contexto e não
como fundo, “Match Point” é uma obra extremamente sóbria sobre a
imparcialidade moral da sorte e, por consequência, do destino. Com um
argumento cruelmente real, repleto de culpa e desejo, Allen voltou a
alcançar a notoriedade que desde os anos 80/90 lhe escapava
iniquamente.

No entanto, o filme é demasiado repartido em termos de ritmo. Se temos
uns quinze minutos finais absurdamente arrebatadores, do melhor que
Allen fez na sua já longa filmografia, somos durante vários períodos
do filme comparecidos com uma apatia quase asfixiante, que enrola e
enrola o que de mais básico a obra produz e acaba por cansar e
desanimar um pouco o espectador mais impaciente. O “casting”, como já
é habitual nos filmes de Allen, é adequado e apropriado. Rhys Meyers
surpreende e Scarlett Johansson confirma. Em suma, a ópera iguala o
jazz, e Allen prova, de uma vez por todas, ser muito mais do que
apenas um comediante de sucesso.


Esta análise é totalmente elaborada por Miguel Reis e foi gentilmente cedida ao Cinemajb.

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