O Corcunda de Notre Dame


De todas as grandes obras que constituíram o auge da Walt Disney Pictures, a época conhecida como Disney Renaiscence e que teve lugar entre os anos de 1989 e 1999, "O Corcunda de Notre Dame" é a mais poderosa.

Em 1996 nascia o mais provocador filme dos estúdios de Walt Disney, uma fita dramaticamente pesada e emocionalmente tocante. Um épico animado sem precedentes que viria a abalar, com rigor e segurança, todos os princípios pré-estabelecidos pela Walt Disney Pictures até ao momento.
Embora não tão dramático como a obra original de Victor Hugo, "O Corcunda de Notre Dame" é, no vasto reino da animação, o mais negro e perturbador produto já idealizado. Produto este, derivado de uma visão comandada pela coragem, a necessidade de marcar a diferença pelo choque.

"O Corcunda de Notre Dame" é assim, para todos os efeitos, um portentoso drama. É animado sim, mas tal condição não necessita de doses de humor. Aliás, estas quando estão presentes e embora sejam sempre bem-vindas, encontram-se claramente desenquadradas e aparentam ser algo amadoras. Compreende-se a necessidade de tornar a fita mais acessível às crianças, mas "O Corcunda de Notre Dame" não engana ninguém.
Seja nas sequências musicais (o tema "Hellfire" é avassalador) ou nas já referidas doses de humor (quase todo ele negro como o filme), a obra de Gary Trousdale e Kirk Wise é, efectivamente, a mais adulta da Disney.

Uma vez mais, é o vilão quem merece os maiores elogios, onde o estrondoso desempenho vocal de Tony Jay é o símbolo máximo da dedicação por detrás do fabuloso Frollo. Imagem do terror, a priori, e da cobiça, a posteriori, Frollo é verdadeiramente inesquecível. É ao implacável juíz quem pertence a melhor cena do filme, o já referido tema musical "Hellfire".
Num registo mais descontraído e até algo exibicionista, é refrescante ver um herói como o capitão Phoebus a trazer alguma lua a toda a escuridão.

O prodígio alastra-se também à animação propriamente dita, neste caso para contemplarmos o majestoso retrato de Notre Dame que nos é oferecido. Magnífico monumento animado, visualmente estonteante e recompensador.

Uma palavra final à banda-sonora de Alan Menken, épica e concordante com o espírito do filme. Magníficas melodias acompanhadas de lindíssimas canções e que mereciam, talvez, menos protagonismo.
Eis o único real defeito que posso apontar ao filme: os momentos musicais são em grande número e, na esmagadora maioria das vezes, consecutivos, o que pode provocar algum cansaço.

No final, sentimos-nos esmagados pelo peso que "O Corcunda de Notre Dame" passou para nós.
Nunca estive tão feliz por ser esmagado.


"-Sir, request permission to stop this cruelty.
-In a moment, captain. A lesson needs to be learned here."

3 Eloquentes Intervenções Escritas:

Roberto Simões disse...

É sem dúvida um dos melhores dos anos 90 e um dos meus favoritos da Disney, mas não concordo que seja o mais poderoso. Para mim, POCAHONTAS é dos mais eruditos e toca a transcendência da arte.
De qualquer forma, achas que poderias explicar melhor a frase "a necessidade de marcar a diferença pelo choque"? Não entendi muito bem a ideia e o contexto.
De resto, estou absolutamente de acordo. Sobretudo no que se refere à magnífica banda sonora de Alan Menken.

Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «

Bruno Cunha disse...

Clássico!
Deliciei-me com este filme...
Concordo imenso com algumas partes da crítica...

Abraço
Cinema as my World

Rui Francisco Pereira disse...

Roberto,

Vou rever a Pocahontas nestes próximos dias, pois já não o vejo desde criança. Mas adianto desde já que nunca foi dos meus favoritos, muito pelo contrário.

Em relação à frase, quero simplesmente dizer que O Corcunda de Notre Dame quebrou certas regras e parâmetros da altura, com sequências-sobretudo musicais-altamente contestadas pela crítica.
Brevemente entenderás melhor o que quero dizer, julgo eu...

A banda-sonora é, como de costume, fenomenal.


Bruno,

Completamente!

E que partes foram essas?


Abraços e obrigado!

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